Professores da rede de ensino fundamental e médio
O litoral brasileiro possui extensão de aproximadamente 8.500 km e é constituído por ecossistemas diversos como mata atlântica, dunas, recifes de coral, manguezais, estuários, entre outros. Estes ecossistemas são fontes de recursos naturais, minerais e energéticos, além de serem responsáveis por processos ecológicos de relevante importância socioambiental, como por exemplo, a ciclagem de nutrientes, proteção e estabilização das áreas costeiras, regulação climática, sequestro de carbono; porém estes são frágeis e extremamente vulneráveis à pressão antrópica. Mais de um quarto da população brasileira vive nas áreas costeiras, cerca de 51 milhões de habitantes (IBGE, 2011), exercendo atividades econômicas ligadas direta ou indiretamente aomar, como: turismo, pesca, aquicultura, atividades portuárias e exploração petrolífera. Além disso, mais da metade da população brasileira vive a menos de 200km da costa (IBAMA, 2002), mantendo uma relação direta com este ambiente. As atividades econômicas costeiras foram já responsáveis por cerca de 70% do PIB nacional (IBAMA, 2002); cerca de 95% de todo o comércio exterior brasileiro é viabilizado pela via marítima (ANTAQ, 2011); 94% da reserva total de petróleo nacional e 84 % do gás natural se encontram em reservatórios marítimos (ANP, 2011). Estes dados enfatizam a importância econômica do ambiente marinho. É inegável a íntima relação dos catarinenses com o mar. O Estado de Santa Catarina possui um litoral com 531 km de extensão com intensa atividade econômica ligada ao ambiente marinho, como a atividade pesqueira, portuária e aquícola. Estas atividades fazem com que a população litorânea e do seu entorno esteja em contato diário com este ambiente. O estado catarinense é grande produtor nacional na maricultura, sendo responsável por 95% da produção de moluscos no país (IBAMA, 2007). Também se destaca no cenário da pesca extrativista, em 2011 foi responsável por cerca de 22% da produção nacional, com cerca de 121.960 toneladas de pescado (MPA, 2012). O estado possui 4 portos, sendo o porto de Itajaí o segundo do Brasil em movimento de contêineres (Santa Catarina, Brasil, 2013). Ainda, o turismo da região é fortemente impulsionado pelas belas paisagens costeiras. Apesar da íntima relação dos brasileiros com os ecossistemas marinhos, a população desconhece muitas questões relacionadas a este ambiente. Em 1997, os brasileiros, quando questionados sobre a importância do mar, visualizaram-o basicamente como fonte de pescado (32%) e de divertimento (17%), desconhecendo sua importância socioeconômica e ambiental (Serafim, 2006), sendo que apenas 7% consideraram o mar importante como fonte energética (petróleo) e 11 % como meio de transporte (CEMBRA, 2012). Esta mesma pesquisa foi repetida em 2011 e os dados demostraram que o conhecimento marítimo brasileiro melhorou em alguns itens, porém, os brasileiros continuam visualizando o mar basicamente como fonte de pescado (67%) e lazer (39%). Apenas 26% reconhecem a importância do mar como fonte de petróleo e 11% como meio de transporte. Ainda, poucos tem conhecimento acerca da regulamentação sobre o mar (CEMBRA, 2012). Assim, apesar da relativa melhora no conhecimento marítimo brasileiro, ambas pesquisas ressaltam a necessidade de desenvolvimento de conhecimentos em áreas ligadas ao mar, ou seja, a formação de uma mentalidade marítima brasileira. Uma das formas mais eficientes de conscientização da população e a consequente transformação ambiental, econômica e social consiste na atuação direta na função social da escola e na formação de professores, já que estes atuam como multiplicadores do conhecimento, agentes de mudanças e construtores de opiniões. Entretanto, os currículos dos professores de ensino básico, de modo geral, não abordam conteúdos sobre os ecossistemas marinhos, principalmente naqueles cursos não ligados às ciências naturais e desta forma os professores desconhecem grande parte da realidade e conhecimento dos seus alunos que vivem em contato diário com o mar. Paulo Freire, em seu livro pedagogia da autonomia, ressalta a importância da formação de professores conscientes do dia a dia dos educandos: ....Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico, social, dos educandos? A formação dos professores e das professoras devia insistir na constituição deste saber necessário e que me faz certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável que tem sobre nós o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos. E ao saber teórico desta influência teríamos que juntar o saber teórico-prático da realidade concreta em que os professores trabalham,... (Freire, 1996) Para o desenvolvimento da mentalidade marítima dentro da sala de aula é necessária a atuação dos professores de forma interdisciplinar, já que envolve conhecimentos das mais diversas áreas. Considerando-se os Parâmetros Curriculares Nacionais, o meio ambiente deve ser ministrado de forma transversal, sendo que os temas transversais tratam-se de .... processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu cotidiano. São debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo quanto à atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo construída e que demandam transformações macrossociais e também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões. (Brasil, 1998) Apesar da educação ambiental ser assegurada pela constituição federal no artigo 225 e ser contemplada como tema transversal necessitando ser trabalhada no dia a dia escolar, grande parte das vezes este tema não é desenvolvido na escola, e, quando trabalhado, é apenas abrangido nas disciplinas de Ciências e/ou Biologia ou em eventos especiais. Segundo Bernardes e Pietro (2010), a falta de abordagem deste tema em sala de aula advêm de diversas dificuldades, dentre elas, a falta de familiaridade e capacitação dos professores das diversas disciplinas sobre os temas a serem trabalhados. Em 2004, o Ministério do Meio Ambiente reconheceu a importância da intensificação dos esforços para a efetivação da educação ambiental para os ecossistemas costeiros e oceânicos e ressaltou a dificuldade de abordagem atual, segundo este relatório são necessárias ações mais sistemáticas de educação ambiental (setor em que as iniciativas são muito pontuais e desarticuladas). A educação ambiental também foi elencada como meta para que a sustentabilidade do meio ambiente brasileiro seja alcançada, segundo o relatório do IBAMA, Geo-Brasil (2002) é necessário Melhorar e fortalecer a incorporação da dimensão ambiental na educação formal e informal, na economia e na sociedade.. Medina (1998 apud Medina 2001) acentua a relevância do tema para o desenvolvimento socioambiental do país: A Educação Ambiental como processo que consiste em propiciar às pessoas uma compreensão crítica e global do ambiente, para elucidar valores e desenvolver atitudes que lhes permitam adotar uma posição consciente e participativa a respeito das questões relacionadas com a conservação e a adequada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e a eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado. A Educação Ambiental visa à construção de relações sociais, econômicas e culturais capazes de respeitar e incorporar as diferenças (minorias étnicas, populações tradicionais), à perspectiva da mulher e à liberdade para decidir caminhos alternativos de desenvolvimento sustentável, respeitando os limites dos ecossistemas, substrato de nossa própria possibilidade de sobrevivência como espécie . Dentre as diretrizes do Plano Nacional de Educação (PNE), decênio 2011-2020, estão a melhoria da qualidade de ensino; a promoção da sustentabilidade socioambiental; a promoção humanística, científica e tecnológica do País e a valorização dos profissionais da educação, sendo uma das metas do plano formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós graduação. Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia são regidos pela Lei 11.892/2008. Nesta lei, seção III, está disposto que, dentre os demais objetivos dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia dois são ministrar: cursos de licenciatura, bem como programas especiais de formação pedagógica, com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e para a educação profissional; e, cursos de pós-graduação lato sensu de aperfeiçoamento e especialização, visando à formação de especialistas nas diferentes áreas do conhecimento; Segundo o artigo 8° desta mesma lei, os institutos devem garantir 20% de suas vagas para o primeiro objetivo. Ressalta-se que o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina tem como missão Desenvolver e difundir conhecimento científico e tecnológico, formando indivíduos capacitados para o exercício da cidadania e da profissão. Todos estes fatores enfatizam a consonância entre os objetivos institucionais e a proposta do curso de especialização lato sensu em Ciências do Mar Aplicadas ao Ensino. Desta forma, tendo em vista a missão dos institutos federais, a íntima ligação da população do estado de Santa Catarina ao mar, a importância socioambiental e econômica dos ecossistemas marinhos, a falta de abordagem deste conteúdo nas salas de aula, o desconhecimento da população brasileira sobre o tema, faz-se essencial suprir esta lacuna na formação docente para que haja o desenvolvimento da mentalidade marítima da população brasileira. Neste contexto, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina Câmpus Itajaí propõe a criação do curso de Pós Graduação Lato Sensu em Ciências Marinhas Aplicadas ao Ensino.
3 OBJETIVOS 3.1 Geral Despertar nos professores a mentalidade marítima permitindo a inserção e integração deste tema nas diversas disciplinas e integrando este conhecimento à realidade dos alunos. 3.2 Específicos Despertar a atenção aos ecossistemas marinhos, desenvolvendo a mentalidade marítima e conscientização socioambiental. Contribuir para a execução de práticas educativas integradoras sobre o ambiente marinho Permitir o diálogo entre os professores de diferentes disciplinas e diferentes níveis, como a educação infantil, o ensino fundamental, médio e profissionalizante, facilitando práticas interdisciplinares em sala de aula Facilitar o desenvolvimento do tema transversal "meio ambiente" presente nos parâmetros curriculares nacionais (PCN's) Proporcionar conhecimento para que os professores possam dialogar com os alunos sobre as suas vivências permitindo o resgate da cultura marítima local.
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